Se você é do tipo de pessoa que a) confere mil vezes se trancou a porta, b) abre a geladeira e se esquece do que ia pegar (se é que era isso que você ia fazer), c) pega no celular com o objetivo de pesquisar algo e, quando percebe, ficou ‘acidentalmente’ mais de meia hora no Facebook (e não pesquisou) ou d) tem dificuldade de lembrar até do que comeu no dia anterior. Se como eu, você já passou por alguma dessas situações (ou todas), então, meu amigo, você entende um pouco sobre o que é perda de memória recente.
Você deve estar se lembrando daquela personagem do filme Procurando Nemo, aquela azulzinha que sempre se esquece de tudo, aquela
que fala baleiês, aquela que já se apresentava falando: “Oi, eu sou a Dory e sofro de perda de memória recente”. Isso, ela mesma! No filme, os lapsos da Dory foram se tornando tão graves que ela acabou se esquecendo de onde ela era, quem eram seus pais e, de certa forma, até mesmo de quem ela era. Além de machucar e causar preocupação aos que eram próximos, seus esquecimentos a faziam correr riscos constantemente. E o que isso tem a ver comigo?
Iih, esqueci
A semelhança da Dory conosco vai muito além de algumas desatenções aqui ou ali. O problema dela também nos faz refletir sobre nosso relacionamento com Deus, pois, assim como ela, rapidamente nos esquecemos do que ele fez e faz por nós e, até mesmo, de quem ele é. Por conta disso, corremos alguns riscos que não precisaríamos se Cristo fosse prioridade em nossas mentes e corações. Esses lapsos de memória sobre a obra do Criador, e suas constantes ações em nossas vidas, precisam ser tratados, ou, logo logo, assim como Dory, poderemos nos esquecer de onde somos, quem é nosso Pai e quem somos para ele.
“Tenham o cuidado de não se esquecer do Senhor,
o seu Deus,
deixando de obedecer aos seus mandamentos,
às suas ordenanças
e aos seus decretos que hoje lhes ordeno.”
Deuteronômio 8.11
Você pode achar que é difícil esquecer coisas tão boas e grandiosas, mas com alguns exemplos, logo vai perceber que é mais fácil do que imagina. Afinal...
- Israelitas: você já parou para pensar sobre o quanto parece absurdo que o mesmo povo que viu as pragas no Egito, a divisão do Mar Vermelho, a coluna de fogo e o maná do céu foi o mesmo que construiu um bezerro de ouro para adorar, questionou a autoridade de Moisés, reclamou que só tinham uma opção de comida e que tiveram a memória tão afetada que sentiram falta dos tempos de escravidão no Egito? (Narrado nos livros de Êxodo e Números)
- Elias: já ficou abismado com o fato de Elias ter fugido de Jezabel logo após ter derrotado seus 450 profetas com o auxílio de Deus? (1 Reis 18–19)
- Pedro: já condenou Pedro por ter duvidado logo depois de ter andado sobre as águas ou por ter negado a Cristo depois de tudo o que presenciou ao seu lado? (Mateus 14.27-34, Marcos 14.66-72)
Pois é! Parece que todos eles tiveram um súbito esquecimento de quem Deus era e do ele era capaz, e, por mais absurda que tal reação pareça, é exatamente isso que fazemos. Basta reparar no quanto reclamamos da nossa situação, ao invés de reconhecermos o cuidado de Deus, ou o quanto nos deixamos ser tomados pela ansiedade, ao invés de confiarmos que ele está cuidando de nós, ou, até mesmo, o quanto vivemos tão centrados em nós mesmos que nem consideramos a vontade de Deus em nosso dia a dia (1 Tessalonicenses 4.3).
“Não aconteça que,
depois de terem comido até ficarem satisfeitos,
de terem construído boas casas e nelas morado,
de aumentarem os seus rebanhos,
a sua prata e o seu ouro,
e todos os seus bens,
o seu coração fique orgulhoso
e vocês se esqueçam do Senhor,
o seu Deus”
Deuteronômio 8.12-14a
Recordar é viver
Sugiro um exercício prático: pense em quantas orações respondidas você se lembrou de agradecer ao Senhor? E quantas dessas vezes se lembrou disso apenas muito tempo depois? Quantas vezes no seu dia o sacrifício de Cristo foi de fato relevante? A resposta para essas perguntas pode nos apontar para o quanto ele tem realmente sido importante para nós e o porquê de, talvez, ele não estar tão presente assim em nossas recordações. Recomendo a todos que tenham um caderninho de oração, pois nos ajuda a perceber mais facilmente o quanto deixamos de reconhecer e louvar a Deus, o quanto somos ingratos e resmungões como o povo de Israel e o quanto perdemos tão facilmente nossa fé como Pedro e Elias! Esquecemos muito rapidamente do que Deus faz. E não estou falando apenas de milagres e feitos grandiosos, que ele pode ou não realizar, nem apenas de tantas orações respondidas que muitas vezes nos passam batido, mas também da nossa negligência com a leitura da Palavra, nossa falta de disciplina com nossas devocionais e dos pequenos momentos do nosso dia a dia em que deixamos de reconhecer que a mão do Senhor estava presente. Precisamos tomar cuidado, pois, com o tempo, nossa memória pode ficar tão comprometida que quem ele é pra nós pode deixar de ter a devida importância.
“Reconheça o Senhor em todos os seus caminhos,
e ele endireitará as suas veredas.”
Provérbios 3.6
Sabendo que o nosso coração é corruptível e da volatilidade das nossas lembranças, Deus ordena que os seus feitos sejam contados e relembrados por nós e que sua Palavra seja memorizada. Isso tudo não é para ter um lindo coro de adolescentes recitando versículos aos domingos, para sermos os melhores no “desembainhar a espada” ou para nos gabarmos do quanto sabemos da Bíblia, mas para que nos lembremos de quem Deus é e de tudo o que ele fez, para que, assim, possamos servir e amar mais a ele (Salmo 119).
“Gravem estas minhas palavras no coração e na mente;
amarrem-nas como símbolos nas mãos
e prendam-nas na testa.
Ensinem-nas a seus filhos,
conversando a respeito delas quando estiverem sentados em casa
e quando estiverem andando pelo caminho,
quando se deitarem
e quando se levantarem.
Escrevam-nas nos batentes das portas de suas casas,
e nos seus portões”
Deuteronômio 11.18-20
“Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti.”
Salmo 119.11
Sem memória, sem esperança
“Todavia,
lembro-me também do que pode me dar esperança:
Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos,
pois as suas misericórdias são inesgotáveis.
Renovam-se cada manhã;
grande é a sua fidelidade!”
Lamentações 3.21-23
Além de nos lembrar dos grandes acontecimentos, a memória nos ajuda a ter esperança. Ela nos ajuda a lembrar de que tudo o que Deus fez tem a ver com o que ele ainda irá fazer. No caso dos israelitas, tinha a ver com a chegada a Canaã. Suas canções, e até algumas festas, serviam como um memorial daquilo que o Senhor havia feito. Além de ajudá-los a ter em mente a promessa de que herdariam a terra prometida, os fazia recordar de quem Deus era, o que ele havia feito e que a postura diante dele deveria ser de temor e adoração (Êxodo 12.27-28, Deuteronômio 30 15-20).
Da mesma forma, a esperança que nos move hoje é a de que o Messias voltará! A esperança de que seremos limpos dos nossos pecados e de que viveremos com ele em um lugar onde não há tristeza, nem choro e nem ranger de dentes (Apocalipse 21.4) deve nos levar a aguardar ansiosamente “a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tito 2.11-13)! Mas, infelizmente, muitas vezes só deixamos para lembrar disso aos domingos de ceia.
Todo dia é dia de se alegrar com a possibilidade da vinda de Cristo. Todo dia é dia para desejarmos estar mais próximos do nosso Senhor. Todo dia é dia de declarar “Maranata, ora vem” e de nos voltarmos para ele em temor e adoração. Que a memória dos feitos maravilhosos do Senhor em nossas vidas nos ajude a fortalecer nossa fé e que seja um lembrete diário do que ainda está por vir: a volta do nosso Salvador!
de http://www.jovemcrente.net