sábado, 5 de setembro de 2015

* Ser Mãe"


          Uma mulher chamada Ana foi renovar sua carteira de motorista.
          Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber como se classificar.
          - O que eu pergunto e se tem algum trabalho. - insistiu o funcionário.
          - Claro que tenho um trabalho. - exclamou Ana - Sou mãe!
          - Nós não consideramos mãe um trabalho. Vou colocar dona de casa. - disse o funcionário friamente.
          Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
          - Qual é a sua ocupação? - perguntou Não sei o que me fez dizer isto. As palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora.
          - "Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".
          A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
          - Posso perguntar - disse-me ela com novo interesse - O que faz exatamente?
          Calmamente sem qualquer traço de agitação na voz ouvi-me responder:
          - Desenvolvo um programa de longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda?). O grau de exigência é a nível de 14 horas por dia (para não dizer 24).
          Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária, que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente abriu-me a porta.
          Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3. Do andar de cima, pude ouvir meu novo experimento - um bebê de seis meses - testando uma nova tonalidade de voz.
          Senti-me triunfante!
          Maternidade... que carreira gloriosa! Assim, as avós deviam ser chamadas Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas, as bisavós, Doutora-Executiva-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas e as tias Doutora-Assistente.
          Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras, Doutoras na Arte de Fazer a Vida Melhor!

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário