O que fazia um menino de 10 anos ao volante de um carro? O dia já tinha escurecido e Ítalo, nome que remete à força e vitalidade, guiava um veículo roubado e tinha ao lado, o amigo, de 11 anos.
Antes de nos determos a essa cena, vamos voltar um pouco na história deste garoto.
A mãe cumpriu pena por roubo e furto. Eles moraram embaixo de pontes e de viadutos. O endereço mais recente era a favela do Piolho, onde, em dois anos, sobreviveram a dois incêndios, em que mais de mil pessoas ficaram desabrigadas.
Era comum ver o menino andando pela área da favela, descalço, sujo e reclamando de fome.
Um dia antes daquele que seria o último de sua vida, Ítalo recebeu uma carta do pai, preso por roubo e tráfico de drogas. “Vamos nos ver em breve”, prometeu ao filho.
Um dia antes daquele que seria o último de sua vida, Ítalo recebeu uma carta do pai, preso por roubo e tráfico de drogas. “Vamos nos ver em breve”, prometeu ao filho.
Agora, vamos voltar à noite em que a vida de Ítalo chegou ao fim.
Na imagem chocante, as pernas estendidas do menino franzino eram vistas pela porta aberta do carro. Pés mais uma vez descalços.
Na imagem chocante, as pernas estendidas do menino franzino eram vistas pela porta aberta do carro. Pés mais uma vez descalços.
Já na sala do IML, a mãe do menino pediu ajuda ao perder o equilíbrio vendo a criança peralta agora imóvel em uma maca.
Uma criança, que embora muitos digam “já estava no mau caminho”, poderia ter o destino mudado, como de tantas outras que alteram a rota natural entre os sobreviventes da lama social na qual vivemos.
Conheço de perto, e lamento, os discursos oportunistas que nessas horas incitam ao ódio.
Comprovando o que disse o escritor Eduardo Galeano, “a justiça é como uma serpente, só morde os pés descalços”.
Na prática, a pena de morte já existe no país que ceifa a vida de 82 jovens, 77% deles negros, diariamente. A estatística assustadora exclui Ítalo, de tão pouca idade que tinha.
Enquanto esteve no mundo, Jesus por três vezes disse: “Deixem vir a mim as crianças”. Ele não apenas as via, como agiu em defesa delas. Não posso crer que naquela época todas cresciam em lares ajustados e protegidas pelo amor dos pais.
Mais ainda, as palavras de Jesus têm importância além da fronteira temporal. Por certo, Ele incluiu em seu discurso crianças semelhantes àquela que hoje tem a morte celebrada por muitos, que insensíveis, não se aperceberam que a morte de Ítalo é um fracasso de todos nós.
Justiça se faz com amor.
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